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“Ser magistrada federal é saber lidar com matérias de interesse público, de extrema responsabilidade. É saber resistir a pressões e, ao mesmo tempo, saber lidar com elas”. É dessa forma que a desembargadora federal aposentada Liliane Roriz, a 14ª entrevistada do projeto da Ajufe “Conhecendo as Juízas Federais”, reconhece a profissão.
Liliane Roriz acumulou 20 anos de experiência, sendo 12 desses anos na Justiça Federal de 1º Grau e os oito restantes como desembargadora do Tribunal Regional Federal da 2ª Região, na 2ª Turma Especializada em Criminal Propriedade Industrial e Previdenciário, no Rio de Janeiro.
Na entrevista, a magistrada conta que atuou em diversos casos emblemáticos e destaca três deles: “a Operação Gladiador, referente a grupo criminoso de alta periculosidade do Rio de Janeiro, e (...) os julgamentos dos processos criminais relativos aos executivos do extinto Banco Nacional e ao caso Marka/FonteCindam, envolvendo Salvatore Cacciola”.
A desembargadora avalia que a persistência é a principal arma para uma mulher que almeja ser magistrada. “Deixar de lado nossos ideais significa viver à margem de nós mesmos, o que pode não ser uma boa opção. É claro que devemos ter em mente nossas limitações e nossa realidade, ao traçarmos metas. Mas, uma vez fixadas, é mirar e agir em prol de atingi-las, com dedicação e persistência”, afirma.
Leia abaixo a entrevista completa!
1) Onde a senhora começou e exerceu a sua jurisdição?
Ao tomar posse como Juíza Federal Substituta, em 30/03/1993, fui designada para a 10ª Vara Federal do Rio de Janeiro. Durante os dois anos de Substituta, fui também designada para substituições eventuais em outras Varas Cíveis, sempre na Capital.
Fui promovida a Juíza Federal em 30/06/1995, assumindo a titularidade da 21ª Vara Federal, também de competência Cível, onde fiquei até minha promoção.
Tomei posse no cargo de Desembargadora Federal do Tribunal Regional Federal da 2ª Região em 05/11/2005, passando a integrar a 2ª Turma Especializada em Criminal, Propriedade Industrial e Previdenciário, onde fiquei até a minha aposentadoria, ocorrida em 07/01/2013.
Durante suas duas décadas de magistratura, a desembargadora foi diretora da Ajufe durante três gestões, de 2000 a 2006
2) Quais foram as suas atuações mais relevantes?
Atuei em inúmeros processos relevantes, mas, para citar apenas três que considero como desafiadores, diante da repercussão recebida, relatei a Operação Gladiador, referente a grupo criminoso de alta periculosidade do Rio de Janeiro, e participei dos julgamentos dos processos criminais relativos aos executivos do extinto Banco Nacional e ao caso Marka/FonteCindam, envolvendo Salvatore Cacciola.
3) Quais as dificuldades que a senhora já enfrentou?
Creio que as maiores dificuldades da magistratura passam por deficiências, seja de servidores, seja de equipamentos. Se esses problemas pudessem ser resolvidos, a produtividade também melhoraria e, por consequência, a proverbial lentidão do Poder Judiciário.
4) A senhora já sofreu alguma dificuldade ou agravamento especial na profissão por ser mulher?
Costumo dizer que o primeiro grau da magistratura não sofre de problemas de igualdade de gênero porque, nesse grau, o ingresso só depende do esforço desenvolvido pelo próprio candidato. A história muda quando se trata de ingresso no segundo grau, que envolve um componente político importante. Há até um tribunal – o TRF5 – que não tem nem nunca teve uma única mulher em sua composição [oriunda da Justiça Federal]. Com isso, minha promoção a Desembargadora Federal passou por dificuldades decorrentes de gênero, mas que foi superada com o tempo.
5) O que é, a partir da experiência da senhora, ser magistrada federal?
Ser magistrada federal é saber lidar com matérias de interesse público, de extrema responsabilidade. É saber resistir a pressões e, ao mesmo tempo, saber lidar com elas. É saber ter poder, tendo em mente que o poder é transitório e, por isso mesmo, não se deve deixar-se inebriar por ele.
Na foto, no Rio de Janeiro, durante a realização do 1º Fonacre, a magistrada participou de mesa de debate com o ex-presidente da Ajufe e desembargador federal Paulo Sérgio Domingues
6) Na opinião da senhora, é possível conciliar a atividade profissional, acadêmica e familiar?
Mesmo não sendo fácil, é sim possível. Depende muito de organização e método e da colaboração e cooperação da unidade familiar. Montar uma estrutura própria, que ajude no dia-a-dia é fundamental.
7) Qual a mensagem a senhora pode deixar para as mulheres que sonham ou já sonharam em seguir a carreira?
Que insistam e não desistam. Deixar de lado nossos ideais significa viver à margem de nós mesmos, o que pode não ser uma boa opção. É claro que devemos ter em mente nossas limitações e nossa realidade, ao traçarmos metas. Mas, uma vez fixadas, é mirar e agir em prol de atingi-las, com dedicação e persistência.