NOTA PÚBLICA - JUSTIÇA DO TRABALHO

    A FRENTAS - Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público, congregando mais de 40 mil juízes e membros do Ministério Público, com respeito às declarações feitas pelo presidente da República Jair Bolsonaro, em entrevista divulgada nessa quinta-feira (3/1), vem a público manifestar-se nos seguintes termos.

    1. Não é real a recorrente afirmação de que a Justiça do Trabalho existe somente no Brasil. A Justiça do Trabalho existe, com autonomia estrutural e corpos judiciais próprios, em países como Alemanha, Reino Unido, Suécia, Austrália e França. Na absoluta maioria dos países há jurisdição trabalhista, ora com autonomia orgânica, ora com autonomia procedimental, ora com ambas.

    2. A Justiça do Trabalho não deve ser “medida” pelo que arrecada ou distribui, mas pela pacificação social que tem promovido ao longo de mais de setenta anos. É notória, a propósito, a sua efetividade: ainda em 2017, o seu Índice de Produtividade Comparada (IPC-Jus), medido pelo Conselho Nacional de Justiça, foi de 90% (noventa por cento) no primeiro grau e de 89% (oitenta e nove por cento) no segundo grau.

    3. A Justiça do Trabalho tem previsão textual no art. 92 da Constituição da República, em seus incisos II-A e IV (mesmo artigo que acolhe, no inciso I, o Supremo Tribunal Federal, encabeçando o sistema judiciário brasileiro). Sua supressão - ou unificação - por iniciativa do Poder Executivo representará grave violação à cláusula da independência harmônica dos poderes da República (CF, art. 2º) e do sistema republicano de freios e contrapesos. O mesmo vale, a propósito, para o Ministério Público, à vista do que dispõe o art. 128 da Carta, em relação à iniciativa ou aval da Procuradoria Geral da República. Em ambos os casos, ademais, esforços de extinção atentam contra o princípio do desenvolvimento progressivo da plena efetividade dos direitos sociais, insculpido no art. 26 do Pacto de San José de Costa Rica, de que o Brasil é signatário.

    4. Por tais razões, a FRENTAS repele qualquer proposta do Poder Executivo tendente à extinção, à supressão e/ou à absorção da Justiça do Trabalho ou do Ministério Público do Trabalho, seja pela sua inconstitucionalidade, seja pela evidente contrariedade ao interesse público.

     

    GUILHERME GUIMARÃES FELICIANO
    Presidente da ANAMATRA – Associação Nacional dos Magistrados da Justiça do Trabalho e Coordenador da FRENTAS

    FERNANDO MARCELO MENDES
    Presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe)

    VICTOR HUGO PALMEIRO DE AZEVEDO NETO
    Presidente da Associação Nacional dos Membros do Ministério Público (Conamp)

    JAYME MARTINS DE OLIVEIRA NETO
    Presidente da Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB)

    ÂNGELO FABIANO FARIAS DA COSTA
    Presidente da Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT)

    ANTÔNIO PEREIRA DUARTE
    Presidente da Associação Nacional do Ministério Público Militar (ANMPM)

    ELÍSIO TEIXEIRA LIMA NETO
    Presidente da Associação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (AMPDFT)

    FÁBIO FRANCISCO ESTEVES
    Presidente da Associação dos Magistrados do Distrito Federal (Amagis-DF)

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