Matéria publicada originalmente no Jornal O Globo.
Evento na capital paulista discute como inovações tecnológicas das start-ups podem ajudar na modernização do trabalho de advogados, juízes e promotores
SÃO PAULO – Em tempos que empresas como o Uber e o Airbnb conseguem, num espaço de menos de uma década, mudar completamente o jeito de fazer negócios nos setores em que atuam, algumas atividades parecem estar presas ao modus operandi da era analógica. Há quem diga que o mundo jurídico, com ritos lastreados em tradições seculares, é um deles.
Um evento realizado nesta quarta-feira (27) em São Paulo tentou mostrar que a era da inovação radical também chegou ao Direito. Chamado de New Law Annual Meeting, o encontro reuniu cerca de 600 profissionais do mundo jurídico, como advogados e juízes, na sede paulistana da Câmara de Comércio Brasil-Estados Unidos (Amcham).
O encontro foi idealizado pelo Instituto New Law, uma startup carioca que deseja disseminar a ‘disrupção tecnológica’ no Direito brasileiro. Fundada pelo juiz federal Erik Navarro Wolkart, que atua no Tribunal Regional Federal do Rio de Janeiro, o Instituto New Law nasceu no ano passado a partir de um evento sobre o futuro do Direito produzido por Wolkart na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, onde fazia doutorado.
Realizado em abril de 2018, o seminário teve a presença de celebridades do mundo jurídico brasileiro, como o ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, dos juízes federais Sergio Moro (hoje ministro da Justiça) e Marcelo Bretas. O interesse sobre o uso de tecnologia no Direito motivou a abertura do negócio, que pretende ganhar dinheiro com cursos online e a organização de viagens de juristas aos principais ecossistemas de novas tecnologias, como Estados Unidos e Israel.
Robôs virtuais leem processos
Na programação do New Law Annual Meeting estavam exemplos práticos de tecnologias emergentes que já estão mudando o dia a dia dos juristas. Um exemplo veio com a palestra do americano Anand Upadhye, vice-presidente da Casetext, uma start-up sediada em São Francisco, no berço do Vale do Silício.
A Casetext usa robôs virtuais semelhantes aos do buscador do Google para ler documentos jurídicos. O motivo: criar pequenos resumos sobre o conteúdo e, além disso, categorizar as missivas por relevância.
A promessa é poupar o tempo de advogados e juristas com a leitura de pilhas de documentos muitas vezes sem relevância – e focar no que de fato é importante num caso.
Fundada em 2016, a Casetext afirma hoje já estar presente em 30% dos maiores escritórios de advocacia dos Estados Unidos e ter levantado US$ 24 milhões em duas rodadas de investimento.
Por trás da expansão da Casetext está a busca dos escritórios de advocacia por mais eficiência para lidar com uma queda de 60% dos gastos com advogados americanos desde 2008, segundo Upadhye.
– Ninguém mais tem tempo para esperar um advogado ficar folheando milhares de documentos. Os clientes querem uma solução rápida. O advogado terá cada vez mais função consultiva – disse Upadhye ao GLOBO.