"É o momento de estarmos reunidas e mobilizadas para renovar o compromisso, a promessa de um Poder Judiciário que seja um instrumento de emancipação, de transformação e por que também não dizer um movimento de resistência?", lembrou a juíza federal Tani Wurster, membro da Comissão Ajufe Mulheres, no segundo dia do "4º Seminário Mulheres no Sistema de Justiça: desafios e trajetórias", em Brasília.
Tani foi a mediadora do primeiro painel, nesta terça-feira (10), que contou com a participação das professoras Isabel Jaramillo Sierra (Universidad de Los Andes) e Fabiana Severi (FDRP/USP), além da juíza do trabalho, Patrícia Maeda.
A juíza federal ainda lembrou que o seminário estava previsto para ocorrer logo quando iniciou a pandemia de Covid-19.
"Há dois anos estávamos com este seminário completamente organizado, com os palestrantes convidados e confirmados e no dia em que íamos comprar as passagens aéreas o mundo se fechou. A pandemia também atingiu de forma desproporcional as mulheres. As mulheres ficaram confinadas em suas casas, muitas delas com seus agressores, particularmente meninas ficaram confinadas em casa com os homens que as violentam".
E completou: "nós ficamos longes umas das outras. Estávamos isoladas, ocupadas demais tentando permanecer vivas, mentalmente sãs e cuidando para que assim também ficassem as pessoas que nós amamos. Nesse período também assistimos a uma escalada de agressões reais e simbólicas às conquistas dos direitos das mulheres, com o recrudescimento de um discurso que pretende recolocar as mulheres em um lugar de inferioridade e de discriminação".
Dando continuidade ao painel que abordou "Julgamento com perspectiva de gênero: panorama geral", a professora Isabel Jaramillo lembrou que no Brasil a perspectiva de gênero não é um mecanismo orientado exclusivamente para proteger as mulheres. "O mundo como nós conhecemos traz uma produção explicada a partir de um ponto de vista dos homens", afirmou.
Em sequência, a professora Fabiana Severi reforçou que a aprovação do Protocolo de Julgamento com Perspectiva de Gênero, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), é uma inovação institucional dentro do Poder Judiciário brasileiro. "Além de comemorar o Protocolo, devemos situar em um contexto histórico de forma a amarrá-lo com seus precedentes, destravando o debate dentro do Poder Judiciário".
Finalizando o primeiro painel, a juíza do trabalho, Patrícia Maeda trouxe aos presentes uma reflexão sobre a divisão sexual do trabalho: . "É um conceito que busca traduzir uma construção histórica, social e cultural do gênero, distinguindo aquilo que se considera trabalho masculino e feminino, bem como estabelecendo uma hierarquia ao valorizar o trabalho masculino em comparação ao trabalho feminino", explicou.
Assista ao primeiro painel do 4º Seminário: https://bit.ly/3vYyuJj
Acesse as fotos do evento: https://bit.ly/3FuPvOJ