Desembargador aposentado critica ênfase da mídia ao auxílio-moradia
Por: Sérgio Gischkow Pereira - Publicado no Jornal Zero Hora (https://gauchazh.clicrbs.com.br/opiniao/noticia/2018/03/sergio-gischkow-pereira-duas-perguntas-cjedc09ng005b01p4ien7dylk.html)
Não recebo auxílio-moradia, pois ele não é pago aos aposentados. Não venho discutir o mérito do tema; diariamente isto sucede e tudo já foi dito.
Venho só fazer duas indagações, que refletem perplexidades não apenas minhas.
A primeira diz com o fato de há vários anos existir o auxílio e sempre foi objeto de críticas, mas críticas sem alardes, sem serem diárias, sem tratar o tema como calamidade nacional. Por que, de repente, o destaque para a matéria antiga passa a ser imenso e sensacionalista? Será porque antes eram atingidos pelas investigações da Lava-Jato principalmente os integrantes do PT que detinham o poder nacional? Será porque hoje aquela operação passou a alcançar pesadamente o outro lado (Temer, Aécio etc)? O quadro resulta parecido com as mudanças de posição de Gilmar Mendes...
Por que aspectos muito mais relevantes para o país não merecem o mesmo destaque?
A segunda pergunta é sobre por que aspectos muito mais relevantes para o país não merecem o mesmo destaque. Um exemplo: os contribuintes mais ricos pagam pouco Imposto de Renda no Brasil; a alíquota efetiva dos contribuintes mais ricos é menor porque dois terços de sua renda são isentos (!!), oriundos, principalmente, de lucros e dividendos (Valor Econômico, 21.02.18, p.A3). Quem aufere mais de 160 salários mínimos paga alíquota efetiva de 6,1%; quem recebe de 20 a 30 SM paga o dobro daquela alíquota. Mas, é claro, há muito mais: coitado de quem fale em imposto sobre as grandes fortunas e em participação razoável no lucro e gestão das empresas, apesar de serem matérias constitucionais. E o reduzidíssimo imposto sobre as heranças? A desigualdade aumenta no Brasil. A distribuição de renda é péssima. As oportunidades não podem ser as mesmas, o que os autênticos liberais reconhecem. Desigualdade não faz diferença? Então por que não são necessárias intervenções militares na Noruega, Suécia, Dinamarca, Suíça, Bélgica, Holanda, Canadá, Reino Unido, Irlanda, Alemanha, Austrália etc? Parece que fui otimista e não havia só duas perguntas.